E a Teologia da Prosperidade?

13/06/2017

Por Denício Godoy

Os cristãos históricos e ortodoxos que creem na divindade de Jesus podem se sentir razoavelmente seguros contra possíveis ataques que partem de fora da igreja, vindos de artistas e estudiosos pós-modernos em forma de distorções e caricaturas. Mas muitas vezes não nos damos conta de que as armadilhas mais sutis se encontram de forma tosca dentro da própria igreja cristã, ou em pelo menos corpos que se dizem cristãos, e são nocivos visto que partem de pregadores e mestres que influenciam a muitos.

Basta ligar a televisão ou acessar páginas de "super-apóstolos" para encontrar homens dizendo que Jesus quer que você esteja fisicamente e financeiramente bem. Esta versão nada ortodoxa do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é conhecida no meio evangelical como Teologia da Prosperidade.

Não há nada inerentemente errado em estar fisicamente e financeiramente bem. Mas, como base para a teologia, está extremamente longe das boas novas do evangelho encarnado e vivido por Jesus.

Os expositores da teologia da prosperidade geralmente não enfrentam grandes problemas em conseguir discípulos, pois apelam para aquilo que é o mais básico dos instintos humanos: o desejo de evitar o sofrimento (ser fisicamente saudável) e o desejo de gratificação (ser financeiramente bem estabelecido).

A própria vida terrena de Jesus está longe de ser um exemplo para a Teologia da Prosperidade. É verdade que não existem relatos que nos mostrem Jesus doente. E, como Filho de Deus, poderia argumentar-se que Ele tinha a riqueza do céu a sua disposição. Mas, quando Jesus se encarnou no seio da Virgem Maria, se esvaziou de suas prerrogativas divinas e tomou sobre si a forma de "servo, tornando-se semelhante aos homens" (Filipenses 2.7). Ele veio como um servo humilde, identificando-se com a fraqueza e o trabalho da condição humana (Marcos 10.45; Filipenses 2.8; Hebreus 2.17,18; 4.15; 5.8).

Quanto à riqueza, Jesus disse de si mesmo: "As raposas tem suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça" (Mateus 8.20). Jesus nasceu e viveu em humildade, despreocupado com qualquer forma de conforto material. E seus apóstolos viveram da mesma maneira. O apóstolo Paulo, por exemplo, interrompeu seu trabalho missionário para fazer tendas e prover seu próprio sustento (Atos 18.3). Parece que se o o evangelho de Jesus realmente desse enfase em riqueza, Ele teria demonstrado isto em sua vida e na vida de seus apóstolos.

Quanto à saúde, Jesus realmente curou muitos doentes. Mas ele não fez isso no intuito de aliviar o sofrimento das pessoas, mas para demonstrar a chegada do Reino de Deus. Em lugar algum é dito que Jesus curou todos aqueles que estavam sofrendo. Na verdade, no poço de Betesda, em Jerusalém, ele curou apenas uma pessoa dos muitos doentes que estavam ali (João 5.1-9).

A imagem de Jesus pintada pelos expositores da teologia da prosperidade tem muito pouca semelhança com o Jesus dos Evangelhos. Eu poderia citar outros exemplos de como Jesus está sendo distorcido no meio evangelical. É verdade que vários ensinamentos da igreja se desviaram da Escritura nos últimos dois mil anos. Mas nunca antes na história do mundo, eles foram tão toscos e tão perigosos como agora. O desafio de cada cristão é conhecer a verdade das Escrituras e se manter distante de ensinamentos completamente anti-cristãos.

A verdade é que Jesus é um personangem completamente popular hoje. É aclamado por conservadores e progressistas, ateus e religiosos, etc. Mas o Jesus que vemos na televisão, nas revistas, nos tribunais, no cinema e na internet é o Jesus dos Evangelhos?

Este é o meu ponto. Se não tomarmos cuidado, essas mensagens, como um jingle publicitário de rádio, se tornarão parte de nossas vidas, parte de nossos pensamentos e de nossas crenças. O reformador suíço João Calvino diz que o coração do homem é um abismo de idolatria, e que se o homem abandonar a Deus ele criará ou se apegará em um ídolo. Por fim, se o que o Novo Testamento diz sobre Jesus é verdade, essas imagens religiosas e culturais podem ser mortais. Isso significa que nada pode ser mais importante do que separar o fato da ficção, à medida que encontramos esses retratos alternativos, ridículos e humilhantes daquele que se fez carne para redimir a raça humana.

Que Deus tenha misericordia de sua Igreja. Amém.

Verbum Domini Manet in Aeternum

Denício M. Godoy, 

São Leopoldo-RS, 13 de Junho de 2017

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